os amantes

teu cheiro figo em doce deleite, digo:
- prazer em reencontros tardios feito por nós em dias frios e refeito os nós em tântricos uivos. diferente dos sóis em noites quentes e sem vírgulas para separar o que é meu do que é teu, fazendo-nos, naquele momento, almas gêmeas. 

sem tão pouco titubear vieram as palavras ditas, verbos atordoantes ao pé-do-ouvido que fazem todo o corpo tremer. nos achamos naquela eternidade e no fim, não nos demos conta de que o tanto-instante era eterno e agora tanto faz, pois o eterno está distante. 

sensatez em pensar e dizer adeus ao que me tornava eterna. aparentemente eterna. 




sapiência, onde tu estás?!

te procurei por entre os mares, nos rochedos do verão, nas ventanias dos campos de altitude e na imensidão dos vales. te procurei entre as folhas outonais largadas pelo chão, nas asas das revoadas de um sertão, no meandro do rio senil e nas encostas de um vulcão. te procurei na dureza das rochas e na constância da rotação, no pé-de-ipê-amarelo, no cinturão de órion, no astro-rei e até em Plutão.

te procurei na percolação da água e no rosado da primavera, por todos continentes, por todas as ilhas e linhas imaginárias, na rosa-dos-ventos e no entendimento da urbanização. te procurei por entre os povos, nos mitos e na miscigenação da língua, da cor, dos gestos e de grão em grão, na diferença da distribuição de renda, de alimentos e da subnutrição.

te procurei entre os poemas, entre as crônicas e as poesias, em toda classe literária, das clássicas às de intensa orgia, nos mangás e nos sorrisos e lágrimas do dia-a-dia.
te procurei na moda, no design, na escultura, na pintura no desenho, no grafite, na percussão, na fotografia, no audiovisual, no cibernético, no mosaico, na grafia e nas ciências, todavia.
te procurei pelas religiões, pelas crenças, pelas orações, cânticos e alfazemas e ainda em outras simbologias. te procurei no tempo geológico, no tempo biológico, no tempo juliano, no tempo do relógio, na reencarnação, na metafísica e na ebulição.

te procurei em todos os bares, no gole de conhaque, nas cerveja gelada, num brinde com copo d'água, nos pontos de ônibus, nos traços vividos, no sistema viário, na política holandesa, no trago do cigarro, na desilusão, nas pequenas coisas, nos detalhes entalhados da xilogravura, nas músicas do mundo, na intuição da alma e do coração.

te procurei na razão de todos os questionamentos, nas dúvidas dos enfermos, na risada de um palhaço, no malabarismo do proletário, no marxismo e no niemeyer, na família, nos amigos, nos inimigos e na multidão.

sapiência, onde tu estás? pra te dizer a verdade, não quero te achar. quero apenas a busca de simplesmente querer te encontrar. sapiência é experimentar a utopia e verdadeiramente acreditar.

desabafo em curtas linhas

distante de tudo o que é conceitual, transporto-me da matéria adicional, descubro rupturas desdobradas em lençóis de algodão, penso na magnólia, destruo tuas glórias e todo o meu falatório é para calar a tua ausência. nem sequer descobriram a tua consistência!

desabafo em curtas linhas para cuspir na estrutura dos teus ais...maldito sistema. lamento efêmero, de boa crueldade, sentindo a consoante na nova língua. pouca sortidão e tudo passarinhará.

pra que tanta rebeldia se nos laços de cada dia cada sorriso e cada poesia se transformam em desatino de uma pistola bem mirada?! maldito sistema. tudo o que eu queria era acabar-te em minhas linhas, minhas curtas linhas putrefadas! e depois disso cair num sono tranquilo, tranquilidade nata de coragem estipulada
certa de que um dia fui eu a mal-amada...maldito sistema.

metade de um ano

o calendário aponta que já se foi a metade de um ano. 
deste ano. 
a semana passou voando...
pouco dormi, pois o sono não vem me acalentando...
meus olhos ardem, 
minha testa se franze.
era para ser a valsa-dos-meus-quinze-anos,
mas faltam dez para os quarenta e tantos...
e o sono...não comprou seu pedaço no espaço aéreo.
o que me restou foram as rimas baratas.
vieram da China. E por isso não rimam.
desdenhaRam meus sentimentos,
cada discordância plural é como um soluço,
é preciso segurar o ar por alguns segundos
antes que me engasgue em unidade. 
é uma singular importância, da qual aprendi já na minha infância.
não sei se coisa de manchetes de jornais, 
não sei se uma preocupação sagaz.

sei que se foi a metade de um ano.

pensa:

outro dia
outra hora
outro exato momento
constante aurora ou possível tormento
faz pouco do conceito e muito lamento
discorre à fio e parece um jumento
concorda sempre no calor do engajamento
esconde na lida um tanto de sofrimento
e assim passa o dia, conforme andamento.


pela manhã

insisto na tua lida amaciando-te de anedotas com bons risos à primeira hora da manhã e tudo o que não fazia sentido ficou esclarecido. agora me faz carinho e me diz ao pé-do-ouvido com clareza.

não é sintético nem prolixo, é a medida exata do meu tesão.

ser sol

ela se cansa, pensa, dança
achada numa inconstância
entre o sonho e a realidade.
coisa bruta e quase maldade...

antes fosse uma partida de futebol,
pudera ser, só não o faria
tratado sem pudor e à regalia.

era copo estilhaçado à beira da rua
os gritos compartilhavam a histeria da rotina
baixa neblina e o sol cobria toda a cidade
tudo o que ela queria era ser o sol

não há negação em ritmos tão absolutos
a paz era utopia dos tantos anos
embebidos pelo tal do amor.

whatever

torpor.
viva o paradoxo.
entre um estado e outro,
não chegue a extremos.
tome um gole de vinho.
encha a casa de alegria,
seja um titã,
faça da rua, sua vida.
sintonize-se.
e taca o foda-se.
(no bom sentido)

coisa que
quando for
onde estiver
seja assim
amor
paz
água
verde
sorriso
gritos
dança
fogo
sol
terra
sal

iceberg
música

...whatever...
dura na queda
morra de rir,


para chico.



normal

onde foram parar as minhas botas??
não pare de pensar, vou buscar meu capelo e ver o que faço com o meu diploma...
não sei o que pendurar na cabeça: se idéias ou fatos. 
essa lata de coca-cola vazia...
esse maço de cigarro na pia...
essa torneira que pinga de noite e de dia...
esse telefone que não toca...
essa cruz na tua porta...
essa insônia que insiste...
essa segunda que resiste...
essa tarde que sufoca...
e tudo está para lá de normal.


à tua risada alta ou algo parecido

ê noite de segunda-feira que em mim adentra e não sai mais. tão pequenina tormenta de idéias...onde me fora tão clemente? pensei por um instante que o silêncio pudesse me deter pelos desenhos, mas nada me tira da cabeça a tua risada alta. o que foi que fizestes com minha a digna esperança? penso por quantas vezes ainda você aparecerá em minhas lembranças.
na minha calma, há força e sensatez e, por vezes, uma possível estupidez. não sei se deus ou destino, ou outra força qualquer... Talvez o pensamento produzido por uma série de cansaços num período intermitente, numa conduta indiferente da vida para comigo. toda vez me deitava, lia, orava, chorava na fonte do meu pensar e pedia aos astros mais que completos na trajetória de sua existência que me levassem daqui para um outro lugar, pois em tom modesto não me via em cena citadina local. queria era ganhar o mundo, percorrer mais trechos e me deitar embaixo de uma árvore centenária para da sua sombra me banhar.
e eis que você veio, chegou bem no meio do meu anseio e me pôs em dúvidas sem sequer me questionar se poderia arrebentar com minha alma ou se tudo posto seria calma, ou se abrigo, ou se trabalho, ou se exagero, ou se simplesmente...era coisa da minha mente. não sei se em grandes alturas, não sei se plaino, não sei se água, só sei que sonho com algo parecido com a tua risada.
então tudo se arrebatou numa condição sensata. nada de serenata! - gritei. tudo passou de imaginação, daquelas enormes existências das teorias psicanalíticas e nenhuma delas transformaria a realidade nem em passos largos... pois depois disso, sentei-me confortavelmente e deixei vagar a minha mente em cada ponto do inexato sistema límbico.
assoprei com toda força àquelas idéias toscas que me encaloravam todo o corpo e numa finita clausura deixei escorrer o suor pelo rosto amenizando toda a corrente dos mais antigos planos. assim, depois de tudo ir, recolhi todos os desenganos, abri o caderno vermelho, tracei linhas paralelas e desenhei o movimento do que é lento, quieto e solidez. daí busquei coragem para acabar com tudo de vez e, não obstante, veio uma inspiração sagaz, uma vontade de dizer, uma coisa de escrever e as cenas do teatro não paravam de me chegar...

imperativo

apressa-te nesta calma
onde tudo em minh'alma
tem seu cheiro e seu sabor

venha nesta firmeza
onde tudo com clareza
é ouvido e sentido com amor

chega de platonismo
sou tua em infinito
é chegar e me tomar de anseios

traga-me certezas
dou-te meu ser em cestas
tens no prazer, todos os meus devaneios

meus que vieram para os seus
com melodia transcendente
embaixo d'água e por todo o céu servente

me queira.

outros modos

quero viver fora da minha cabeça por uns tempos...
sentir mais perto meu coração aos olhos
deixar pra lá a semiótica e depois voltar sem pé nem mão.

transferir cada parte do corpo no corpo da arte
tomada de imensidão azul e camomila
feita de poema e geografia
cantada em jardins suspensos, repletos e harmônicos
digna de amar cada pedaço teu em plenos sonhos
ver a realidade nos chamar ao leste alaranjado
num calor fora do comum
confrontando a inércia do rápido movimento
seguindo o silêncio, a lentidão e a quietude.

...leve...
quase como num tai chi chuan...





sentido

vento pela pele entra passa configura desata
sol pela veste aquece entorpece envaidece
chuva pelos olhos não se esquece refresca enobrece
som acalma recria alma não despede
cheiro tem sabor em casca lapida e lasca
sempre centro dia no meio da rotina serve
raio ou para-raio num disparo queima mata fere
nada atinge quando o olho é seu aliado
busca acha cria cuida agradece e bota um alho
todo dia é dia se pudesse ser assim bom pra caralho.


estupidez

estupidez a sua de querer me ter
eu nunca seria tua e de nenhum outro querer!!

sou eu, minha vida não há dono!!

conquiste-me em idéias
não penses em querer me ter
penses que posso ser
penses em me querer ser.

e aí sim, me conquistarás
e viverás para ver
que o mais infinito dos cantos angelicais
ecoarão sobre nossa comunhão.

transeunte

jovial idéia que corre na poética censura do ser humano
nenhum marcador de livro no meio engole seco
pudera, era andor e andorinha

modéstia vida em laço estreito de cor vermelha
corria feito atleta e pouco via a vida

o tempo passou, acabou de passar.
e foi-se...

mais valia

caminha, caminha
estranha é a minha
percepção das coisas
finitas e etéreas
num passo lento vento na pele
e nada passarinharia
se não cantassem pela manhã
no primeiro raiar do dia
antes mesmo do galo pronunciar
vejo pelas singelas lidas
que só são poesias no papel
nas mãos calejas a literatura não descreve
deixa para a geopolítica conceituar
a mais valia sem gotejar

Que horas são?

Oras! Que pergunta é essa a essa hora? 
Me parece até um choro infantil!!! 
Levante-se e vá em frente, nada de perguntar, já passou da hora!! 
Não te atormentas com essa pergunta?! 
Pois eu já não me aguento mais tantas vezes ouví-la. 
Passa já para lá menina, não há mais 
tempo para esse tipo de pergunta. 
Mas espere, precisas saber de uma coisa: 
só o tempo pode com as horas!

Classificados

Procuro uma varanda que tenha uma rede verde-musgo 
parede de granito-bruto
O telhado pode ser de galhos de árvores centenárias e folhas verdes-folha
Se possível uma queda d'água para banhar-me NUA sem ressentimento. 


 
 

ceci preta

uma ceci preta para vocalizar 
numa cidade que não tem lugar.
abracei árvores pelo caminho, 
muitas flores nos cabelos...
a sensação da liberdade era tamanha 
que me perdi na hora...

os sorrisos pelo caminho percorrido 
pareciam um avisar...
me agradeceram pelo sorriso, 
disseram que era para eu ser feliz
pediram-me para voltar 
 
ganhei caixas de laranjas (sem laranjas) 
para montar meu guarda-roupa!
ganhei palavras doces de uma vida já percorrida...
ganhei felicidade dos olhares brancos...
ganhei um gozo à distância...
um respirar e uma quentura no corpo...

muita coisa para um dia só...
e o que eu posso fazer sobre isso??
só agradecer!!!
benzadeus...


era uma vez um blues

quanta ressaca!!
era uma vez um blues que lavava a alma e fazia-me chorar por dentro!!
para o externo, sorrisos e flertes, mas para mim era um vazio irreverente!!

preenchia-me de ilusões
aquelas luzes embaraçavam
a gaita conduzia
a guitarra fazia sinergia
o contra-baixo arrepiava
a bateria prometia coração

e depois, tudo o que eu queria era chegar em casa e ouvir dez contados!!
numa ressaca quântica...
quanta ressaca!!!










coerência

você me diz: 
"ta tudo misturado aqui" 
e eu te digo: 
"fui muito sincera?".

então, acordamos e dormimos com a mesma sentinela.
mas hoje, trouxe flores para alegrar o seu dia: 
pouca coisa, simples, mas são belas.
são cheias de intenções para a hora da novela...
momento em que desligamos a televisão e projetamos outras telas.

amor consistente!
durarás eternamente apenas enquanto durares...
coisas de poetas...coisas da realidade.

mudando de assunto...
adoro quando a luz bate desse jeito no seu rosto,
minha imaginação delira com essa parte - não me deixa cegar!

epifania

pela alma, pela palma
visto a alegria de viver
um sorriso
transpiro

arrasto minha saia no chão
danço rodando pião
salto duplo
e um gole de conhaque

sobrevivência
congado conta o gingado
poesia, morte e fé
Epifania!!!

entrelinhas

entrelinhas pensadas e curtidas
tanatt relaxa e aconchega
os poros se abrem
os vidros embaçam

juras e injúrias
verdades ditas
prazer inconsolidado
e saudade do que não foi.

frases curtas
minutos como se fossem segundos
cheiro da nudez
mesa, tapete e manta xadrez.





exclamações

cansaço na mente. (in)coerência. racionalidade maldita!
porque me fazes tão pequena?! em que momento me queres plena??
ilusório esta minha pena...
essa carne que arde...esse meu desejo...
faça-me cena! ensina-me a querer ser.
que falso ideal!! súbito poeta, massacra a tua... 
se esquece das nossas vitórias!! 
relembra-te do passado, mas não de nossas glórias!
tudo em vão...

percebo e intuo. não discuto às mazelas!!
quem é quem nesse mundo de passagem?!
sou eu, meu submundo?
minha mente cansada de tanta racionalidade...
me entrego ao que sopra...
deixo o vento bater em outra porta,
porque a terra que me soca, me tem mais por completo.

as folhas secas pelo inverno, me lembram a solitude do que é o perto.
folhas em branco e nenhuma escrita me convence!
é sexo por sexo? diga-me que és um poeta vanguardista!! 
que me tens em tuas poesias assim como Madalena, Isaura ou Helena fizeram-se na história!
me deixas corrompida com minhas imagens.
é a razão que me disseca, é um medo mais que covarde...
tenho dó de quem não nos conhece...
essa nossa fração despedaçada 
esse nosso contato imediato...

não me permita, transeunte!! 
porque me escutastes? era para você não me ouvir...
nem um segundo por aquelas mensagens!
e agora, o que eu tenho? teclado e saudade.
saudade do que não vem,
saudade do que não tem,
saudade do que não é verdade.

que situação é essa?! não paro de imaginar!
não paro para imaginar! não me sinto modesta!!
é a mente cansada de tanta razão...
é a inspiração de um poeta...
poeta que não cessa seus versos
trovas em aberto
e tudo por água abaixo












estrelas

embriagada de racionalidade
condição que me quebra!!
deixo de ser esta se me disseres: venha.

busco sobriedade
é minha natureza!!
quero a felicidade
nem que seja embaixo da mesa...

torturo com minhas piedades
e nada me convence
que ter estrelas é algo insensato!!

canto para afastar-te de minha mente
risco o chão com a amarelinha que inventastes
inspiro-me na tua ebriedade
e me embriago em minha vontade

mas confesso que não era assim
sim, minhas mãos
ai, que tremor...

diálogo com o tempo

pedi para o tempo dar um tempo porque o meu tempo já estava sem tempo. o tempo reclamou que o tempo foi inventado por quem não tinha tempo de se preocupar com o tempo. pedi para o tempo desconsiderar o tempo que passou e parasse o tempo que ainda não chegou. o tempo me olhou como sem tempo para argumentar e temporariamente me disse que estava sem tempo. o tempo saiu como num segundo e eu fiquei horas a pensar. alguém me disse que perderia tempo conversando com o tempo. deveria ter escutado. o que me resta agora é o barulho do ponteiro do relógio tic-taqueando na minha cabeça para eu acordar sem reclamar. 

amo-te

o que dizer numa hora dessas??
é sentimento atravessado por vielas estreitas.
útero que fere
fome na áfrica
ano eleitoral
desgraça em rede

há de passar
sustenta tua alegria
mesmo na dor do dia
que insiste em demorar


pior do que o perto
é o todo
pior do que o todo
é não acreditar.
não se pode confessar
sem que doa a aorta
não se faz um por-do-sol
com tempestade

amo-te...









FOZ

turbilhonaram-me de provocações!
olhei ao redor e...rios dissecantes!
meandraram-me de sons calmos
era só o barulho das águas...

faltou-me foz...

encontrei-me deltáica,
embolei-me nos proveitos das areias.
esfoliaram meus culotes!

redobrado

foram alguns minutos em silêncio redobrado. tudo parecia estático. era um silêncio inpensado, um mero silêncio redobrado como se fosse luto pleno pela morte das idéias. todo aquele esplendor das palavras, todo aquele sentimento raro de um quarto explodiu num silêncio redobrado. 

fechou teus olhos, inspirou tuas mortes, rezou inconscientemente, perdeu-se no vácuo. 

voltou para a sua vida acelerada sem deixar o silêncio redobrado. dali em diante, viveria em silêncio redobrado. era sua forma de dizer pequenas sutilezas aos sórdidos pensares alheios. conspirava contra todos, mas mantinha-se num silêncio redobrado. 

caminhou no tempo vivido, suspirou aliviado, sorriu mediocremente, indagou-se das certezas.

sentou à mesa, preparando seu apetite com os olhos. seu paladar degustava aos cheiros. seu olfativo respirava as cores, mas em nenhum momento falou sobre suas sensações. manteve-se num silêncio redobrado.

eu

eu vivo aquilo que vivo
sou aquilo que vivo
vivo aquilo que sou
e entre uma coisa e outra
bebo poesia, fumo fotografia e viajo nas entrelinhas

ipê-amarelo

era sol, era suor,
sentei-me embaixo daquele pé-de-ipê amarelo
foi quando vi você passar com seu sorriso pela primeira vez
depois disso meu mundo se fez mais ipê e todo amarelo me lembra você...





um respaldo

Quanto sonho nessa calma
Quanta calma nesse sonho
Se sonho, se calma,
se todo operante desalma
pra mim é tudo um recomeço
e todo recomeço é um novo fim
e um novo fim é assim
começa, finda sem não sem sim
a coragem desperta a luta
labuta, labuta, labuta
e o cor de rosa do quartzo
é coisa bruta
se lapida, supera
e todo sonho é calma
e toda calma cabe nesse sonho
sempre em alerta (para não cair em pranto)
mesmo santo, não confio
sou mais eu no meu caminho.

conversa pra jumento dormir

Agora gira mundo que muito insiste em girar, mas por num momento instrospectivo pensou em parar...

Porém, veio a Lua e lhe disse:
- deixe de conversa e continue a labutar, se tu não girar, como é que esse mundo vai ficar?! E eu, como ficarei?? Olha ao teu redor e veja quantas belezas, deixe de ser egoísta! Pensas que é tudo por conta do seu girar!! Oras...

Então, chegou o Astro e ordenou com todas as suas chamas:
- Ninguém há de parar!! Aqui quem manda sou Eu e teu núcleo há de trabalhar!!

Foi aí que a Terra gracejou:
- Você me ordena e eu respondo aos teus mandamentos, mas aqui dentro de mim, tem muito jumento!!
Pois, não adiantas nesse Minúsculo Reino Teu querer ordenar, se em pobreza meu núcleo há de arrebentar!!

- Pouco importa as consequências, nosso trabalho tem que continuar, se o núcleo não se aguentar, paciência...teremos apenas mudanças...e...bem, os jumentos de que tanto reclama, irão evaporar. Portanto, não descanse, até o rebento concebido, pois das heranças geológicas, já temos muitos motivos. Creio que teu surto deve-se por ingestão de gás metano. Disse o Sol para a Terra, com seu caloroso discurso sobre continuidade.



tanto

tanta coisa verdejante
descolorida pelo cinza
tanta terra deslumbrante
sem apelo ao acesso
tanta gente colorida
sorrindo feliz da vida
tanta cor na lida
escondida pelo tanto
de apenas alguns 'santos'
que tanto alopram
aos poucos prantos
em tão tanto tanto.

sem querer

hoje, eu ali...
nasceu um poema
quase sem querer
tava em silêncio e 
nada para fazer
era eu só pensamentos
e tudo o que queria
era que chegasse a noite
para poder te ouvir
você veio
e sem reconhecimento
foi-te embora tão logo chegou
a fala destoa da realidade
e agora pouco me importa se há rima
ou métrica, mas sim se há alma.