outros modos

quero viver fora da minha cabeça por uns tempos...
sentir mais perto meu coração aos olhos
deixar pra lá a semiótica e depois voltar sem pé nem mão.

transferir cada parte do corpo no corpo da arte
tomada de imensidão azul e camomila
feita de poema e geografia
cantada em jardins suspensos, repletos e harmônicos
digna de amar cada pedaço teu em plenos sonhos
ver a realidade nos chamar ao leste alaranjado
num calor fora do comum
confrontando a inércia do rápido movimento
seguindo o silêncio, a lentidão e a quietude.

...leve...
quase como num tai chi chuan...





sentido

vento pela pele entra passa configura desata
sol pela veste aquece entorpece envaidece
chuva pelos olhos não se esquece refresca enobrece
som acalma recria alma não despede
cheiro tem sabor em casca lapida e lasca
sempre centro dia no meio da rotina serve
raio ou para-raio num disparo queima mata fere
nada atinge quando o olho é seu aliado
busca acha cria cuida agradece e bota um alho
todo dia é dia se pudesse ser assim bom pra caralho.


estupidez

estupidez a sua de querer me ter
eu nunca seria tua e de nenhum outro querer!!

sou eu, minha vida não há dono!!

conquiste-me em idéias
não penses em querer me ter
penses que posso ser
penses em me querer ser.

e aí sim, me conquistarás
e viverás para ver
que o mais infinito dos cantos angelicais
ecoarão sobre nossa comunhão.

transeunte

jovial idéia que corre na poética censura do ser humano
nenhum marcador de livro no meio engole seco
pudera, era andor e andorinha

modéstia vida em laço estreito de cor vermelha
corria feito atleta e pouco via a vida

o tempo passou, acabou de passar.
e foi-se...

mais valia

caminha, caminha
estranha é a minha
percepção das coisas
finitas e etéreas
num passo lento vento na pele
e nada passarinharia
se não cantassem pela manhã
no primeiro raiar do dia
antes mesmo do galo pronunciar
vejo pelas singelas lidas
que só são poesias no papel
nas mãos calejas a literatura não descreve
deixa para a geopolítica conceituar
a mais valia sem gotejar

Que horas são?

Oras! Que pergunta é essa a essa hora? 
Me parece até um choro infantil!!! 
Levante-se e vá em frente, nada de perguntar, já passou da hora!! 
Não te atormentas com essa pergunta?! 
Pois eu já não me aguento mais tantas vezes ouví-la. 
Passa já para lá menina, não há mais 
tempo para esse tipo de pergunta. 
Mas espere, precisas saber de uma coisa: 
só o tempo pode com as horas!

Classificados

Procuro uma varanda que tenha uma rede verde-musgo 
parede de granito-bruto
O telhado pode ser de galhos de árvores centenárias e folhas verdes-folha
Se possível uma queda d'água para banhar-me NUA sem ressentimento. 


 
 

ceci preta

uma ceci preta para vocalizar 
numa cidade que não tem lugar.
abracei árvores pelo caminho, 
muitas flores nos cabelos...
a sensação da liberdade era tamanha 
que me perdi na hora...

os sorrisos pelo caminho percorrido 
pareciam um avisar...
me agradeceram pelo sorriso, 
disseram que era para eu ser feliz
pediram-me para voltar 
 
ganhei caixas de laranjas (sem laranjas) 
para montar meu guarda-roupa!
ganhei palavras doces de uma vida já percorrida...
ganhei felicidade dos olhares brancos...
ganhei um gozo à distância...
um respirar e uma quentura no corpo...

muita coisa para um dia só...
e o que eu posso fazer sobre isso??
só agradecer!!!
benzadeus...


era uma vez um blues

quanta ressaca!!
era uma vez um blues que lavava a alma e fazia-me chorar por dentro!!
para o externo, sorrisos e flertes, mas para mim era um vazio irreverente!!

preenchia-me de ilusões
aquelas luzes embaraçavam
a gaita conduzia
a guitarra fazia sinergia
o contra-baixo arrepiava
a bateria prometia coração

e depois, tudo o que eu queria era chegar em casa e ouvir dez contados!!
numa ressaca quântica...
quanta ressaca!!!










coerência

você me diz: 
"ta tudo misturado aqui" 
e eu te digo: 
"fui muito sincera?".

então, acordamos e dormimos com a mesma sentinela.
mas hoje, trouxe flores para alegrar o seu dia: 
pouca coisa, simples, mas são belas.
são cheias de intenções para a hora da novela...
momento em que desligamos a televisão e projetamos outras telas.

amor consistente!
durarás eternamente apenas enquanto durares...
coisas de poetas...coisas da realidade.

mudando de assunto...
adoro quando a luz bate desse jeito no seu rosto,
minha imaginação delira com essa parte - não me deixa cegar!

epifania

pela alma, pela palma
visto a alegria de viver
um sorriso
transpiro

arrasto minha saia no chão
danço rodando pião
salto duplo
e um gole de conhaque

sobrevivência
congado conta o gingado
poesia, morte e fé
Epifania!!!

entrelinhas

entrelinhas pensadas e curtidas
tanatt relaxa e aconchega
os poros se abrem
os vidros embaçam

juras e injúrias
verdades ditas
prazer inconsolidado
e saudade do que não foi.

frases curtas
minutos como se fossem segundos
cheiro da nudez
mesa, tapete e manta xadrez.





exclamações

cansaço na mente. (in)coerência. racionalidade maldita!
porque me fazes tão pequena?! em que momento me queres plena??
ilusório esta minha pena...
essa carne que arde...esse meu desejo...
faça-me cena! ensina-me a querer ser.
que falso ideal!! súbito poeta, massacra a tua... 
se esquece das nossas vitórias!! 
relembra-te do passado, mas não de nossas glórias!
tudo em vão...

percebo e intuo. não discuto às mazelas!!
quem é quem nesse mundo de passagem?!
sou eu, meu submundo?
minha mente cansada de tanta racionalidade...
me entrego ao que sopra...
deixo o vento bater em outra porta,
porque a terra que me soca, me tem mais por completo.

as folhas secas pelo inverno, me lembram a solitude do que é o perto.
folhas em branco e nenhuma escrita me convence!
é sexo por sexo? diga-me que és um poeta vanguardista!! 
que me tens em tuas poesias assim como Madalena, Isaura ou Helena fizeram-se na história!
me deixas corrompida com minhas imagens.
é a razão que me disseca, é um medo mais que covarde...
tenho dó de quem não nos conhece...
essa nossa fração despedaçada 
esse nosso contato imediato...

não me permita, transeunte!! 
porque me escutastes? era para você não me ouvir...
nem um segundo por aquelas mensagens!
e agora, o que eu tenho? teclado e saudade.
saudade do que não vem,
saudade do que não tem,
saudade do que não é verdade.

que situação é essa?! não paro de imaginar!
não paro para imaginar! não me sinto modesta!!
é a mente cansada de tanta razão...
é a inspiração de um poeta...
poeta que não cessa seus versos
trovas em aberto
e tudo por água abaixo












estrelas

embriagada de racionalidade
condição que me quebra!!
deixo de ser esta se me disseres: venha.

busco sobriedade
é minha natureza!!
quero a felicidade
nem que seja embaixo da mesa...

torturo com minhas piedades
e nada me convence
que ter estrelas é algo insensato!!

canto para afastar-te de minha mente
risco o chão com a amarelinha que inventastes
inspiro-me na tua ebriedade
e me embriago em minha vontade

mas confesso que não era assim
sim, minhas mãos
ai, que tremor...

diálogo com o tempo

pedi para o tempo dar um tempo porque o meu tempo já estava sem tempo. o tempo reclamou que o tempo foi inventado por quem não tinha tempo de se preocupar com o tempo. pedi para o tempo desconsiderar o tempo que passou e parasse o tempo que ainda não chegou. o tempo me olhou como sem tempo para argumentar e temporariamente me disse que estava sem tempo. o tempo saiu como num segundo e eu fiquei horas a pensar. alguém me disse que perderia tempo conversando com o tempo. deveria ter escutado. o que me resta agora é o barulho do ponteiro do relógio tic-taqueando na minha cabeça para eu acordar sem reclamar. 

amo-te

o que dizer numa hora dessas??
é sentimento atravessado por vielas estreitas.
útero que fere
fome na áfrica
ano eleitoral
desgraça em rede

há de passar
sustenta tua alegria
mesmo na dor do dia
que insiste em demorar


pior do que o perto
é o todo
pior do que o todo
é não acreditar.
não se pode confessar
sem que doa a aorta
não se faz um por-do-sol
com tempestade

amo-te...









FOZ

turbilhonaram-me de provocações!
olhei ao redor e...rios dissecantes!
meandraram-me de sons calmos
era só o barulho das águas...

faltou-me foz...

encontrei-me deltáica,
embolei-me nos proveitos das areias.
esfoliaram meus culotes!

redobrado

foram alguns minutos em silêncio redobrado. tudo parecia estático. era um silêncio inpensado, um mero silêncio redobrado como se fosse luto pleno pela morte das idéias. todo aquele esplendor das palavras, todo aquele sentimento raro de um quarto explodiu num silêncio redobrado. 

fechou teus olhos, inspirou tuas mortes, rezou inconscientemente, perdeu-se no vácuo. 

voltou para a sua vida acelerada sem deixar o silêncio redobrado. dali em diante, viveria em silêncio redobrado. era sua forma de dizer pequenas sutilezas aos sórdidos pensares alheios. conspirava contra todos, mas mantinha-se num silêncio redobrado. 

caminhou no tempo vivido, suspirou aliviado, sorriu mediocremente, indagou-se das certezas.

sentou à mesa, preparando seu apetite com os olhos. seu paladar degustava aos cheiros. seu olfativo respirava as cores, mas em nenhum momento falou sobre suas sensações. manteve-se num silêncio redobrado.

eu

eu vivo aquilo que vivo
sou aquilo que vivo
vivo aquilo que sou
e entre uma coisa e outra
bebo poesia, fumo fotografia e viajo nas entrelinhas

ipê-amarelo

era sol, era suor,
sentei-me embaixo daquele pé-de-ipê amarelo
foi quando vi você passar com seu sorriso pela primeira vez
depois disso meu mundo se fez mais ipê e todo amarelo me lembra você...