quintal de casa

 ver...
sentir...
respirar fundo...
contemplar...
agradecer...
abençoar...
fechar os olhos 
e ouvir o silêncio 
que vem do vento, 
dos pássaros, 
das árvores, 
das águas...


...que janela...

quintal de casa


diário de campo

da antena vê-se entre as neblinas, a atualização do novo programa. parto para cima querendo mais perto do céu ficar, mas o que preciso é olhar para as ruas e visualizar o quanto minha vista aguentar...toda aquela pequena cidade e longe do modo de vida de ser caipira, eu apenas avisto todas as vias e me pergunto do dia-a-dia daqueles morros e montanhas que deslizam nos caminhos de quem os fita. nada parece estático e muito menos o é, mas por enquanto está tudo dentro do prazo e caminhando com aquela fé de um boa metodologia de trabalho. 

sair à campo é deixar-se revestir de conceitos para que seus olhos vejam com mais propriedade aquela paisagem que nos movimenta e compreender que o inverso também é afirmativo. 




exata razão

justifica tua prosa em meio a tanta rosa
pacifica enquanto consegue e segue
umidifica tua garganta santa e canta

não há outra condição
ser é ser, exata razão
o mundo gira mundo
e assim é o mundão!

purifica teu caminho e reza
desmistifica tua reza, preza
não tem fim, desconstrói
tudo em mim.

descabelados

digitalizadas impressões em eufórico diálogo
ele ri pelo teclado
e silencia tua festa
não dita regra alguma
apenas vive teus momentos
ah, sossego dos vinte e poucos anos...
verdadeiro tormento, me lembro:
ri por fora, indaga-se por dentro e lamenta-se no escuro
depois all star, poça d'água e um maço de cigarro vermelho

simples e tocante
saudades de acordes mirabolantes
acordes que me tocam latentes

não preciso de rima pra dizer o que sinto,  pois não passa de um devaneio...
quero me mostrar ao mundo minha poesia sem rima e dizer porque tu veio!

diria mil vezes até chegar em ti o meu recado
deixaria a estrada livre para teus cabelos descabelados e beberia destilado fumando meu prateado
para de longe te olhar e ouvir teus acordes mirabolantes
acordes que me tocam latentes, que me deixam (in)conscientes...

a distância dos pensamentos é uma condição sem idéias,
poucas fazem o papel de dizer o que pensam. a grande maioria pensa,
apenas pensa!

não troco nenhum outro descolado, gosto de te ver assim com teus cabelos descabelados soltos ao vento e com uma seriedade debochada...sempre bem acompanhado de um céu e mar na face...

saudosa memória...




aqueles dias de cão...

Aqueles dias de cão...
você mal se reconhece na frente do espelho
vê tudo em poucas cores
usa apenas teu faro

e late para ver se alguém te entende.

reação alcoólica ao amor

reação alcoólica ao amor
eis que perdeu-se a magia
eis que de nada adiantou
seu dia cheio de amor

mansamente amarela
veio ela me dizer:
- sim!!
boca nua sem palavra tua
foi o beijo que existiu na rua
coisa que veio e teve...
ah, bendita reação alcoólica!!!

Chuva

e o dia chove em minha alma
chove com alegria
de ter sido apenas dia
desconstruiu meu castelo
com as gotas de chuva
chegou sem pedir licença
com seu sorriso veio pra ficar
buscou-me ao movimento do silêncio
de perto, longe ou fora
nunca sem descontentamento
sobre rosas me deito
pela janela tudo é cinza
verde é aqui dentro
e no mais é tudo paz.


Coisas do Tempo, José

Caiu uma laranja do pé, José!
Veja...que cor, está no ponto de consumi-la!
Vamos, abra!
Como? Com os dentes, uai!

Olha José, uma flor de limoeiro!
Quanta cor e que cheiro!!
Vê. Coisas simples?

Veja José, a estrada está ali
só esperando a gente sair!
Não, não é a hora
Não é o momento

Coisas assim, coisas do tempo....

Se há

Se há - em toda construção, invade
Se há - em toda multidão, embate
Eu só posso estar vivendo de amor
Vendo tudo passar com cor em flor


Ah, se o mundo fosse menos covarde
Ai, se o coração às vezes arde
Eu só posso estar querendo dizer
Pare com toda essa engrenagem!
Deixa tudo acontecer,
o medo é pouco, é bobagem...

bom dia

quanta imaginação - dia ensolarado de boas perspectivas! 
abraços em árvores e já te consideram insana!
parques e mais parques numa urbanidade desconjuntural!
é a própria forma sem estrutura
afixiada pela fumaça que transporta 


vendedor bate de porta em porta
o carro de som já avisa...
é abóbora, beterraba, alface e abobrinha!


o espaço aéreo consumido pelas redes
coisa que nem temos conhecimento
o celular é pré-pago
sinal que mal pega na mantiqueira
e por falar em céu, onde estão os pássaros?! 


o casal se apega cada vez mais
são quase unicidade e paciência
e só agora o reconhecimento de paz!


ai, ai, bom dia vida!
bom tê-la em minha companhia!
seja sempre bem-vinda e aproveitemos o dia
que o sol abençoado veio nos trazer.
Sempre essa de viver...


Biopoema

Mesmice cortante que fere a lateralidade
Quanta coisa movida e você parada! 
Seja latente e não disperse!! 
Energia provocada em novembros céleres!
Desata e desatina sob consciência de momentos exatos.
Frases que constituem tua membrana citoplasmática
Reverenciando os glicídeos em sua postura laboral
Adesão, vedação e comunicação!
Ponha tudo na gaveta e não suma em incoerência!!




Felicidade

felicidade que em mim se encontra em estado de agitação, conseguistes passar a tensão superficial e agora borbulha e evapora por todos os poros de minha consciência. Que coisa mais mágica!!


Ou é pura ciência?!

Amor?

A leitura de minha consciência não permite a compreensão de tantos gritos.
E chamam isso de amor?!

Pode ser evolução, mas amor é demasiada perfeição.

Pare com tantos berros! Meu cerebelo balança...
quanto eco!!


 
Construção e improviso...
isso me soa como jazz...
não tem meio-termo, ou se ama ou não! 


Concreto

Parou para almoçar num restaurante vegetariano qualquer porque precisava de cores nos teus sabores. A cidade era muito cinza e o céu muito azul, não tinham outros matizes para equilibrar tua caminhada. No caminho entre o restaurante e a biblioteca, as idéias lhe chegavam tanto quanto as informações externas. Tivera a retina pronta para o córtex e mal sabiam como absorvê-las, entretanto trabalharam como nunca! 

Ao chegar à Biblioteca Municipal, faltavam as cores, os sabores e os títulos, mas o silêncio reinava e era tudo tão refrescado pelo ar condicionado que as idéias tomaram-se repentes...estava tão fácil pensar ali...

Buscou outros temas para contemplar a cultura da política que pouco se importa com a cultura. Ficou folheando e pensando e anotando as entoadas condições. Leu e releu todas as bonitas definições e conceitos de arte para construir suas próprias releituras. Olhou no relógio as horas lhe dizendo: vá! 

Seguiu calmamente para a orla do Banhado. Sua calma atrapalhava o trânsito dos desesperados e estes a consumiam pelas idéias que vinham desde lá de dentro da Biblioteca. Quanta controvérsia! Porque (alguns) livros e (algumas) realidades pouco se combinam?! O cotidiano deveria ser revisto e tido por verdade. Se bem, o que é verdade, não é mesmo? De qualquer forma, o conteúdo imposto pela realeza da plebe é uma razão incontida de sensibilidade. Quanta beleza no não-belo!! Tudo era concreto e decerto nada deserto. 

Pensar, descobrir e interpretar - Brecht tinha razão: dialética. Quanta idéia por vir! Mas, mais razão ainda tinha a Dona Maria - era um calor de lascar e a chuva não viria a cair.







matemática

Geometria que me plaina no ar
Nada fora do polígono
Mas com quadriláteros tangenciais

Algo a ver com graus longe dos minutos
Fórmulas que aconchegam meus sonhos
Tranquilizam cada báskara
O que vale é a condição do delta
Percola literalmente os acentos agudos 
e as linhas de interpretação

Percepção na coragem do dia
Às vezes álcool, às vezes fumaça
Uma louça lavada e sossego para leituras

E sou eu o fragmento da ciência e religião
Curta temporada de matéria densa
Vocalizes me dominam em condição volátil
Adeus à deusa
E tudo o que peço é para pouco trajeto
Chegar ao utópico lar e me banhar 

Quanta música envolvida!
Da matéria cinza aos ouvidos da vizinha
Lamenta-se por não me ouvir cantar mais pelas manhãs!!
Disse-me que era como oração
E eu, vaidade tomada pela imensidão da rua, abri meu largo sorriso
Mas voltei para a matemática.







olhos

fui lá ver...
...eu mesma com meus próprios olhos.

era um belo nu em plena mata.

alma nua que veste de alegria
sem derramar
paixões maiores.


demanda vida.

então viva!!
e não me pergunte o porquê.