conclusão

nervos à flor da pele.
hormônios explodindo de razão.
riqueza dos mistérios endócrinos.
lembro-me das novenas.
lembro-me também dos lençóis amassados.
conclusão de uma estrada caminhada a pé,
calmamente, sem medo de olhar,
sem medo de apreciar.


sem pudor e com nervos à flor da pele. 

sonho

sussurrou ao pe-do-ouvido sem perceber a distância que a mantinha em silêncio. foi um pequeno delírio numa quente noite de lua cheia primaveril. quando deu por si, sem pé-do-ouvido,  sem aproximação, sem nada, discou o prefixo daquele número que deixou de existir. desistiu de cantar sua canção predileta e deitou-se sob o luar de primavera, nesse profundo silêncio de amor-perfeito.

não desistiu de ser um sonho.

Pontos

Familiariedade com os pontos
São doze fileiras horizontais em sete camadas verticais
Pula um ponto, aumenta um conto e vende por dez reais
Faz todo santo dia e todo dia santo
Está sempre na cadência da vida
Não desiste da labuta
Possui coragem no brilho do seu olhar
Escreve após a meia-noite
Deita aliviada
No travesseiro, somente plumas
Fecha os olhos, agradece e sonha
Traduz superioridade na sua simplicidade
Coisa de poucos...e para poucos...
Esquece da vergonha dos outros
Pula a parte ruim da vida
Possui Familiariedade com os pontos.

contemporâneo

engana-te!! 
era despedida, um protesto.
assumo em fé: 
sim, sou essa mulher - fragmentos e despedaços de vida
em traços pardos da noite e do motel direto para o altar 
indiscreto desejo coberto de sangue
digo para o padre: "sim" 
você repete a ordem comum: "sim"
eu com meus devaneios
você com suas mentiras

quem ama quem?
ops, um silêncio abstrato
retrato do contemporâneo








toda



alma apática?
não, impossível.
por isso, vamos à prática!!


tua boca

entorpece de céu essa sua boca anestesiada
não precisa dizer mais nada
sei onde estão as pequenas arestas
gritarei versos em prosa
sem que me veja rondando a festa

porque querer o céu 
se tenho a tua boca anestesiada?
complicaria tudo se novidade fosse
onde já se viu, cegou-se!
esperar é um dom que não possuo

transformo tudo em escrita
e continuo princesa da tua boca anestesiada
se assim é, me mantenho dita
danço nas linhas tortuosas do bem-querer
sem professar sobre o teu limbo
e nem ao meu

toquem o pífano!!
rodarei minha saia florida ao som do nordeste!

domingo




no meio da cidade, uma chuva.
no meio da chuva, uma cidade.

nem trovas nem trovões...
só chuva e cidade. 






repetição


tentativas furtadas uma espécie de vazio no centro do caos...
pelo desencontro
 um tornado de saudade
no meio do meu coração


no meu coração
no meu coração
no meu coração
no meu coração
no meu coração
no meu coração





 

Um e outros


Um conjunto de idéias. 
Três apostilas. 
Um sonho. 
Orações. 
Uma fogueira. 
Desejos compartilhados. 
Um contrato assinado. 
Uma meta a cumprir. 
Um município sob responsabilidade.
O Censo.
Um ano diferente. 
Um teto. 
Uma passagem.
Uma atitude.
Um tempo.
Um desenho.
Um instante.
Um movimento.
Uma criança.
Uma mulher reservada.

E outros poemas nascendo.



Uma mulher reservada. 

responsabilidade

eu me culpo
eu te culpo

mas na verdade não temos culpas e nem somos culpados.


isso foi coisa inventada
coisa para nos separar um do outro.
coisas de humanos
coisas de religiões
coisas inventadas mesmo


...sentimento casto.


o que nos resta é a responsabilidade de um choro ou de um riso.

renascimento

o corpo em febre dói numa alma
dói tanto que na alma se sente
não se ressente
nem pressente
nem gente
nem.

deixar-se morrer - as células
para o renascimento de uma mulher.

de uma mulher.

corpo em febre...

morrer e nascer quantas vezes forem necessárias
para o renascimento de uma nova mulher

não teme a semente,
chora porque é gente.

não é uma pessoa que vive
é uma pessoa que vive:
vive para morrer e nascer quantas vezes forem necessárias
para o renascimento de uma nova mulher

da mesma mulher entremeada,
surgida das cinzas, do nada
do nada construído pela vida...

não para latente
nem resolve estridente
apenas sente
sente a febre que a toma por inteira,
completa por teus anseios,
anseios de nascer, viver e morrer.








   

eu, alface e gengibre

eu respiro.
eu leio.
eu sonho.
eu canteiro de mudas.

eu falo.
eu gozo.
eu calo.
eu e minha mão.

eu choro.
eu rio.
eu durmo.
eu papel e palavras.

eu amo.
eu deixo.
eu ando.
eu violão e deus.

eu desenho.
eu realizo.
eu medito.
eu pés no chão.

eu terra.
eu Terra.
eu piso.
eu alface e gengibre.

cabelos

não quero ser massacrada pela cultura e nem domesticada pelo mundo.
quero minha voz tão mudada como meus cabelos agora curtos
e quero soltar a risada sem ter que me preocupar com os curdos.

se hoje é domingo....

no chão, pés firmes.
no céu, um cinza chumbo.
na beira da lagoa, dois violões.
na boca, saudade calada pelo canto.

numa época em que vieram os pássaros cantar, ruminam os camelos...
se hoje é domingo,o que serei eu amanhã?